Por Luciana Esteves • 20/06/2007
Ele é um amor, gentil, atencioso, educado, fiel, carinhoso e está completamente apaixonado por você... só que você simplesmente não gosta dele. Por que sempre tem que ser assim? Por que nós nunca nos apaixonamos pelo típico genro que toda mãe pede a Deus? Por que não gostamos dos homens bonzinhos? Alguns homens provavelmente diriam que o problema é das mulheres, "esses seres complicados que nunca estão satisfeitos com o que tem". Pode até ser, mas a questão é que todas essas qualidades reunidas numa só pessoa fica difícil de aturar. Difícil é explicar o porquê.
A nutricionista Flávia Neves vivia se queixando da ausência e da frieza do ex-namorado até conhecer aquele que tinha tudo para ser seu novo príncipe encantado. "O Rafael era uma gracinha, supercarinhoso, romântico e fazia qualquer coisa para me agradar. Ele conseguia ser perfeito ao ponto de não se incomodar se eu saísse sozinha com as minhas amigas numa sexta à noite. Como eu estava saindo de uma relação desgastada, daquelas que beijo na boca só em dia de comemoração, até achei legal a dedicação do rapaz no começo. Mas depois... aquilo começou a me dar nos nervos porque eu fazia ele de gato e sapato e ele continuava me paparicando como um idiota. Resumindo: perdeu a graça porque era fácil demais", admite.
Fácil demais? Exatamente. Pode parecer discurso machista, mas para algumas mulheres, o gostinho da conquista é a essência de qualquer relacionamento. "Qual a graça que tem um homem sem nada para tentar modificar? Eu preciso de um objetivo em tudo na minha vida, e isso se estende à minha vida amorosa também. O que eu quero é deixar o cara apaixonado, conquistá-lo. Se ele vier me dando tudo de bandeja, eu fico desestimulada. Além do mais, homens bonzinhos demais são sempre uns chatos, extremamente carentes, que tentam suprir a própria carência oferecendo tudo aquilo que gostariam de receber", teoriza a empresária Alice Ribeiro. Segundo a psicóloga Maria Helena Junqueira, essa repulsa não é uma regra. "Esse comportamento é inteiramente individual. A questão seria descobrir porque esse homem já conquistado não serve. Eu até poderia supor que, em casos muito específicos, a mulher que deseja um homem difícil, do tipo que sempre diz não, está em busca da figura do pai que lhe rejeitava no passado", exemplifica.
Complicado mesmo é quando o suposto homem-bonzinho-péssimo-namorado é, antes de tudo, um excelente amigo. A historiadora Nádia Freitas penou por ter se rendido aos apelos de um desses. "Ele fazia tudo pra mim, mas eu achava ele um banana. Um dia, por pilha de uma amiga, acabei pegando o cara. E isso foi a pior coisa que eu poderia ter feito. Ele entrou numa viagem louca de que nós estávamos namorando e me ligava o dia todo, queria fazer tudo para me agradar. Parecia um cachorro... e era assim que eu o tratava. Um dia, ele me chamou para viajar para Búzios e eu inventei mil desculpas. Primeiro, disse que estava sem grana e ele logo se revoltou dizendo que eu não pagaria nada. Depois, inventei que queria ver um show – que eu sabia que ele não iria de jeito nenhum - e ele teve a capacidade de me dizer: 'Olha, vamos para Búzios. A gente volta no sábado, você assiste ao show enquanto eu te espero do lado de fora e depois nós voltamos para lá'. Isso é o cúmulo! Um homem como esse não existe e é por isso que se torna insuportável", diz ela.
Atitude. Para a publicitária Daniella Fernandes, é isso o que falta na maioria dos falsos príncipes encantados. "Quando alguém faz tudo para agradar, a gente acaba perdendo o respeito por essa pessoa de tanto que ela cede a nosso favor. Essa história de ser bonzinho demais acaba não dando certo. Não que eu seja a favor dos brucutus! Muito pelo contrário, eu quero um cara sensível ao meu lado, mas que tenha aquele "Q" de masculinidade. Acho que isso é o que falta nos nossos maravilhosos, adoráveis e sensíveis amiguinhos arroz... aqueles que só servem para acompanhar. Todos os bonzinhos que eu conheci tinham uma sensualidade baixa, eram muito amiguinhos, não tinham aquele olhar sacana de quem sabe brincar com a imaginação da mulher. São ótimas companhias para um bom papo, mas não mostram o seu lado macho", diverte-se.
Há quem diga que a insegurança é um dos principais temperos do relacionamento e talvez seja por essa mesma razão que os bonzinhos acabem sendo dispensados. Preocupados em manter suas amadas sempre tranqüilas e seguras, esses homens esquecem que excesso de auto-confiança também pode resultar em desprezo e desvalorização. "O ideal é encontrar um homem meio termo. Um cara que sabe te ouvir nos momentos importantes, que te cuida, te faz bem, mas que ao mesmo tempo se valoriza, que "exige" da mulher uma preocupação constante de ser sempre melhor e mais bonita. Afinal, um bonzinho vai gostar de você de qualquer jeito: burra, maltrapilha, cheia de varizes... Aí, é só perceber que ele vai ficar contigo de qualquer maneira, que você começa a pisar no pobre", radicaliza a designer Claudia Monteiro.
Mas nem tudo está perdido para eles. A fisioterapeuta Regina Antunes, por exemplo, afirma que não existe nada melhor do que um homem bonzinho para oferecer o que toda mulher deseja: carinho, atenção e dedicação integral. "Para duas pessoas se darem bem, normalmente, elas tem que ceder em muitas coisas. Não consigo me imaginar ao lado de uma pessoa egoísta e que só consegue olhar para o próprio umbigo. Sempre namorei caras que me tratavam como uma princesa e faziam tudo por mim, pois acho que é isso que toda mulher quer: ser tratada de uma maneira especial. Meu marido é superbonzinho e essa é a principal razão pela qual eu estou casada com ele. Mas que uma coisa fique bem clara: para ser bonzinho, o homem não precisa perder a personalidade e o lado masculino", garante.
Antes de torcer o nariz, vale a pena refletir sobre o assunto. Algumas mulheres, até inconscientemente, desprezam os homens bonzinhos pelo simples de fato de acreditarem não merecê-los. Uma mistura de falta de amor próprio e desvalorização pessoal que as leva diretamente para o fundo do poço, ao lado de homens que demonstram, no máximo, descaso e indiferença. Não cabe julgar o que é certo ou errado, mas é indiscutível que seria muito mais lógico gostar de quem gosta da gente. Seria uma questão de auto-estima, de amar a si próprio em primeiro lugar, percebendo o valor que a gente tem. Seria... mas razão e emoção normalmente não andam juntas, infelizmente. Ou seria felizmente?